EMERGÊNCIAS NO PARAQUEDISMO

EMERGÊNCIAS E SITUAÇÕES ESPECIAIS NO PARAQUEDISMO – PARTE 1

Por Ricardo Pettená                  Foto de Andrey Veselov

O paraquedismo é um esporte de risco. Riscos que podem ser minimizados ou não, porém o fato brutal tem que ser encarado: paraquedistas morrem todos os anos praticando o esporte. Saltar de um avião e pousar com segurança depende de inúmeros fatores, sendo que a maioria deles pode ser calculada e controlada. Nos Estados Unidos são quase 40.000 paraquedistas e três milhões e duzentos mil saltos realizados por ano com uma média anual de 31.8 mortes anuais desde 1963. Nos últimos 10 anos essa média baixou para 21. No Brasil temos 4.000 paraquedistas e fazemos aproximadamente 300 mil saltos por ano (estimativa) com uma média de 5.2 mortes por ano desde 2007 quando passei a manter as estatísticas como chefe do Comitê de Instrução e Segurança da Confederação Brasileira de Pára-quedismo, cargo que ocupei por seis anos. Os EUA tem um paraquedismo 10 vezes maior do que o do Brasil. Considerando que se os nossos números fossem do tamanho dos números do paraquedismo americano, proporcionalmente falando, teríamos 52 mortes por ano, ou seja, 31 a mais do que lá. Esses 147 por cento a mais podem ser minimizados. Durante nossa gestão no Comitê de Instrução e Segurança colocamos como objetivo “zerar os acidentes fatais” e trabalhamos com afinco para atingir a meta.

Uma rápida avaliação das nossas estatísticas mostra um triste cenário. Os acidentes que no Brasil já chegaram a oito num determinado ano, foram baixando ano a ano. Foram 7 em 2007, depois estabilizou em 5 por ano em 2008, 2009, 2010 e 2011. Nos anos de 2012 e 2013 tivemos 3 fatalidades e finalmente em 2014 os acidentes foram zerados. Neste ano já não estávamos mais no CIS, porém os efeitos residuais dos programas implantados eram tão eficazes que conduziram o paraquedismo brasileiro ao nosso melhor ano no que se refere ao aspecto mais importante do paraquedismo: a segurança. Infelizmente em 2015 os números voltaram a crescer e com força.Tivemos 6 acidentes fatais em 2015 e até a presente data em maio de 2016, já estamos com 3 fatalidades. Isso se deve ao fato de que todos os programas de segurança foram abandonados pelo CIS.

Individualmente falando, o primeiro passo para aumentar a segurança é reconhecer os aspectos de risco do paraquedismo e criar medidas de prevenção. O segundo passo é estar preparado para lidar com as emergências.

Ao analisarmos os fatores de risco do paraquedismo, podemos dividir em sete áreas de risco potencial:

  1. Dentro da aeronave, durante o voo
  2. No momento da saída
  3. Na queda-Livre
  4. Ao comandar a abertura do paraquedas
  5. Na abertura propriamente dita (ou na não abertura), incluindo panes, anormalidades e colisões
  6. Durante a navegação
  7. No pouso

Etapas do Salto - emergencias

Todos paraquedistas aprendem no curso de primeiro salto a lidar com as emergências e situações incomuns que possam ocorrer no salto. Não apenas no salto, mas desde que nos aproximamos da aeronave para embarque. Os problemas podem ocorrer na decolagem, durante a subida, no momento do lançamento e saída, na queda-livre, no acionamento (comando) da abertura do paraquedas, na abertura, depois do paraquedas aberto e no pouso. Na medida que evoluimos como paraquedistas, devemos sempre relembrar as emergências e adaptá-las ao nosso novo momento no esporte. Novos equipamentos, novos velames, aeronaves diferentes, macacões diferentes, quantidade de paraquedistas no ar, áreas de pouso mais restritas, saltos de demonstração e mais uma infinidade de fatores exigem que façamos ajustes nas nossas medidas preventivas e de emergência. Estar bem preparado para agir caso seja surpreendido por uma emergência faz toda a diferença para a sua sobrevivência.

Vamos começar abordando as emergências a bordo da aeronave.

Primeira parte: Emergências durante o voo da aeronave

Uma das provas de que não podemos controlar pessoalmente toda a segurança de cada salto que fazemos, é que durante a subida até a altitude do salto, estamos dentro de um avião que está sendo pilotado por outra pessoa. Também não conhecemos a manutenção dos aviões (não conheço nenhum paraquedista que fica junto na oficina acompanhando as manutenções).

Dizer que estamos de paraquedas e que por isso o voo é seguro é, no mínimo desconhecimento. Muitas das emergências acontecem próximo ao solo, na decolagem, quando não é possível saltar e abrir o paraquedas com segurança.

Uma forma de minimizar os riscos é a utilização de cintos de segurança e capacetes na decolagem, o que é obrigatório, porém as nossas aeronaves não costumam ter cintos. No Brasil é assim: até que aconteça um acidente com graves consequências, ficamos à mercê dos proprietários das aeronaves. Para eles também existe o outro lado da moeda que é a questão da responsabilidade civil, pois no caso de um acidente, não existe desculpa pela negligência. Aqui nos Estados Unidos todas as aeronaves lançadoras estão equipadas com cintos adaptados e fáceis de utilizar.

As ocorrências durante o voo poderão exigir que os paraquedistas permaneçam a bordo ou que saltem. No último caso, podemos classificar as saídas em antecipadas ou de emergência. As saídas antecipadas são aquelas em que o salto será realizado mais baixo por razões externas: a torre de controle proibiu o salto mais alto ou um temporal está se aproximando e não haverá tempo de alcançar a altura prevista. Já as saídas de emergência são aquelas que ocorrem por panes na aeronave.

Avião

Abertura prematura dentro da aeronave: o paraquedista foi extraído.

 

 

As panes nos aviões podem ser estruturais, de motor ou fogo. Panes estruturais podem acontecer por várias razões e já ocorreram com aeronaves lançadoras no Brasil várias vezes. Numa delas, a aeronave perdeu parte da asa quando estava a 5.000 pés e entrou em parafuso. Alguns paraquedistas conseguiram sair e se salvar, outros não. Também já aconteceram várias panes de motor com desfechos diferentes em cada caso. Panes de motor acima de 1.500 pés oferecem duas possibilidades aos paraquedistas a bordo, e a decisão do que será feito é sempre do piloto. Na primeira opção o comandante pede para que os paraquedistas saltem. Na segunda, ele poderá pedir para que todos fiquem a bordo e pousará com os paraquedistas, mesmo com o motor apagado.

Resumo das emergências a bordo:

Até 1.500 pés – volta na aeronave, posição de pouso de emergência.

De 1.500 e até 3.500 pés para alunos – saída solo com mão no punho do reserva (AFF); se for aluno ASL com fita sair sentado na porta.

Acima de 1.500 para paraquedistas experientes – depende do equipamento e da experiência do paraquedista.

Acima 3.500 pés para alunos – saída solo e abertura imediata do principal.

Acima da altura de comando – saída normal e abertura na altura prevista.

Panes estruturais e fogo: saída imediata.

Devemos seguir sempre as orientações do piloto e os alunos devem seguir as orientações do seu instrutor.

Outra situação que pode acontecer a bordo é a abertura prematura de um dos paraquedas. Se o paraquedas abrir enquanto a porta está fechada, deve-se pedir para que mantenham a porta fechada. Em aeronaves pequenas (4 a 6 lugares), todos devem voltar a bordo. Em aeronaves maiores (10 a 20 lugares), manter-se afastado da porta, desequipar-se e voltar na aeronave mantendo total controle do paraquedas que está fora do container.

Se a porta estiver aberta e o paraquedista estiver afastado dela, procurar segurar o paraquedas e pedir para que a porta seja fechada imediatamente. Porém, se estiver próximo a porta e se alguma parte do paraquedas for extraída, saltar imediatamente.

No próximo artigo desta série abordarei as emergências na saída, na queda-livre e no comando de abertura do paraquedas.

 

Fale comigo: ricardo_pettena@hotmail.com

 

 

 

 

16 comentários Adicione o seu

  1. emanuel saraiva pinto disse:

    Excelente!

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    1. Obrigado Emanuel. Aguardo seu e-mail me atualizando sobre o seu trabalho de treinamento físico com as equipes militares. ricardo_pettena@hotmail.com
      Agradeço sua atenção. Por favor, compartilhe com os amigos.
      Abraços,
      Ricardo

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  2. Carlos Hager disse:

    Gostei, precisamos de mais artigos desse no cenário brasileiro, ouço em muitos lugares sobre questão de segurança, mas vejo pouca divulgação e ação sobre isso; ansioso pelo proximo artigo.

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    1. Oi Carlos, obrigado! Como você afirmou, a questão da segurança é de fundamental importância no nosso esporte, afinal de contas queremos sempre pousar com segurança e estar em condições de subir para o próximo. Estou trabalhando na continuação do artigo. Agradeço se você puder compartilhar. Qualquer dúvida, estou sempre a seu dispor. É só escrever para ricardo_pettena@hotmail.com
      Bons saltos,
      Ricardo

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  3. colunaesportiva disse:

    Parabéns pelo texto Ricardo, apesar de muitas das coisas que você cita provavelmente já terem sido expostas a todos os paraquedistas, é importante estarmos sempre refazendo essa leitura.
    Os números citadas são interessantes.
    Obrigado pelo trabalho desenvolvido.

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    1. Obrigado! Realmente este assunto é (ou deveria ser) interiamente de conhecimento de todos os paraquedistas, porém muitas vezes deixamos de nos preparar para as emergências porque queremos acreditar que elas nunca vão acontecer conosco. Mas, como o risco é inerante, temos que estar sempre preparados. Por favor, compartilhe sempre para que todos os paraquedistas fiquem alertas e prontos para tomar a melhor medida se for necessário. Se tiver dúvidas, entre em contato pelo meu e-mail ricardo_pettena@hotmail.com
      Céu azul e bons pousos,
      Ricardo

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  4. Paulo Roberto disse:

    Acabei de iniciar no paraquedismo e esse tema foi muito citado pelo meu instrutor AFF, mas nunca é demais rever o que é para nossa segurança, parabéns estou aguardando o próximo artigo.

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    1. Olá Paulo Roberto!
      Fico feliz que você esteja iniciando no esporte. Tenha certeza que você estará passando pelas melhores emoções da sua vida: a sensação de voar é ímpar. Você já deve ter descoberto isso. Brevemente publicarei o próximo desta série. Você pode assinar o blog e receber alerta por e-mail. Se você tiver alguma questão relativa a este ou qualquer outro assunto sobre paraquedismo, basta escrever para ricardo_pettena@hotmail.com
      Arpoveite os saltos,
      Ricardo

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  5. Gabriel Affonseca disse:

    Bom artigo

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    1. Gabriel, muito obrigado pelo comentário. Compartilhe com os amigos paraquedistas e nos escreva se tiver dúvidas. O meu e-mail é ricardo_pettena@hotmail.com
      Abraços,
      Ricardo

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  6. Luís Brull "visconde" disse:

    Excelente matéria!! Aguardo a continuação!!

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    1. Luís, agradeço pelo comentário e me coloco à disposição para qualquer esclarecer dúvidas por aqui ou pelo meu e-mail ricardo_pettena@hotmail.com
      Por favor, compartilhe os posts para que consigamos atingir o maior número de paraquedistas.
      Bons saltos e céu azul,
      Ricardo

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  7. Fabio Morado disse:

    Sou paraquedista e piloto de aeronaves e pecebo que poderíamos intensificar a divulgação de normas de seguraça no paraquedismo em forma de campanhas, cartazes, seminarios, etc. a exemplo do que o CENIPA faz na aviação. Incluindo revalidações teóricas obrigatórias a todos os atletas.
    Estive presente e acompanhei de perto dois acidentes ocorridos em Boituva no fim de 2015 e início de 2016, sobre estes acidentes não tive acesso ou ouvi falar de nenhuma recomendação de segurança oficial.
    Muitas das orientações são transmitidas no “boca a boca” e acabam distorcidas. Muitas das normas de seguraça são cotidianamente negligenciadas por puro hábito e/ou falta de conhecimento.

    Parabéns pelo trabalho Pettena !

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    1. Obrigado Fabio! Eu concordo
      com você. A divulgação dos relatórios de acidentes é fundamental para que não se repitam os mesmos erros. Esse é um dos programas que o CIS precisa dar continuidade. Ele
      Era chamado de PEPA – Programa de Estudo e Prevenção de Acidentes e era baseado no CENIPA e era chefiado por um Cel da Força Aérea, também paraquedista civil.

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  8. Eduardo Proft disse:

    Excelente Ricardo! O Esporte está encarecido de literatura como esta. As campanhas de segurança praticamente não existem, se é que existem. Deveriam haver mais “safety days”, mais empenho por parte da CBPQ, enfim, de todos, porque a todos interessa. De nada adianta eu estar preparado, se algum sujeito não estiver no mesmo salto.

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    1. Concordo com você Eduardo, afinal queremos ter as condições para saltar com segurança e no paraquedismo funciona da mesma forma que na estrada: não adianta você dirigir corretamente se um motorista alcoolizado em alta velocidade atravessar a pista e atingir o seu carro.
      O “Safety Day”, ou “Dia da Segurança” como chamava-se aí no Brasil deixou de existir, bem como outros importantes programas de segurança. Obrigado pelo seu comentário. Compartilhe com a nação paraquedista. Se precisar de algo, basta escrever no e-mail ricardo_pettena@hotmail.com
      Abraços

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